Segundo a filosofia, experiência é tudo que fica em minha memória quando algo toca os meus sentidos. Por isso o uso do marketing sensorial é tão importante para criar memórias nos consumidores. O cheirinho da loja Animale, a música da Armani Exchange, o espumante da H Stern. Tudo faz diferença. Faz um produto valer mais, faz o cliente comprar mais e faz o empreendedor sorrir mais.
Tudo que toca meus sentidos marca a minha vida. Mas meus sentidos são trocados o tempo todo!? Claro. Elementar, eu diria. Elementar é saber que desta forma existem experiências que não podemos controlar, experiências que podemos controlar e experiências que devemos controlar.
E entre as que são mal controladas, mas são bárbaras de se viver, existe o café no Pão de Açúcar. Na década passada, era um frequentador assíduo do Rio de Janeiro. Dias longos de trabalho me levavam para a capital carioca em reuniões, treinamentos e palestras. Mas geralmente no último dia eu me dava o direito de apreciar meu café no Pão de Açúcar.
O fim de tarde do Pão de Açúcar é mágico. A forma como a distância para a cidade ganha um dourado especial e a fotografia recortada pelas janelas e paisagem fazem do sabor daquele café, do cheiro do mar, do silêncio barulhento dos últimos turistas, uma experiência única.
Mas entre as experiências que eu devo controlar existe um momento desse café que o transforma em memorável. A descida. Chegar ao Pão de Açúcar é andar sobre as águas, com o silêncio e o balançar do vento. Em uma máquina histórica, junto de pessoas que possuem medos, desejos incontroláveis de fotos e sonhos. Mas no fim de tarde, entre os últimos carrinhos do bondinho, descer do Pão de Açúcar te deixa refletir a vida junto do reflexo das ondas do mar.
O vento aumenta, o silêncio cresce e os pensamentos voam. Andar no bondinho é como colocar uma cola de alta densidade nas memórias do Pão de Açúcar. E talvez ele seja o culpado do café do Pão de Açúcar ser tão bom.
Poucas pessoas alugam um carro porque querem dirigir. Elas alugam um carro para se deslocar, para ter férias mais confortáveis, para fazer passeios que seriam difíceis de transporte público. As pessoas alugam carros para viver experiências.
E alugar um carro pode ser como andar no bondinho. Alugar um carro pode ser a forma de você amplificar as memórias dos clientes. Mas para isso você precisa saber que experiência é quando algo toca meus sentidos de um jeito que ninguém ainda tocou.
*Will Weber é dreamer da marca Hector